sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

o porque de uma gastroplastia #1



Hoje é sexta feira. Estou tensa. Entre segunda feira da semana passada e hoje consegui a liberação para a gastroplastia, passei no vestibular, achei uma casa nova pra locar, perdi a casa, escrevi três artigos, me matriculei na universidade, achei outra casa, fui chamada para  assumir aulas de artes, e não assumi por conta da gatroplastia.
Amanhã começa a minha formação pedagógica e estou em dieta líquida desde agora. opero o meu estômago na quarta-feira.  não há nervos que aguentem tanta coisa acontecendo de uma vez só. estou num momento de pressão. coisas que definem a vida daqui pra diante estão acontecendo rápido e simultaneamente e não há muito tempo para respirar e contar até dez.
Dentre todo este turbilhão, a gastroplastia é o que mais anda me tirando o sono. em alguns momentos, por euforia, outros por apreensão e outros ainda por puro pavor. medo da cirurgia?
sim, é claro.
mais medo ainda de não fazê-la. ou de fazê-la e haver complicações posteriores. ou ainda fazê-la e não perder peso.  

eu fui uma pessoa resistente à gastroplastia. não teria feito se tivesse permanecido em determinado peso -mesmo com indicação- mas alguns acontecimentos dos últimos dois anos me trouxeram até aqui - com a necessidade incontestável de passar pela redução de estômago.

A primeira coisa foi o aumento de peso. engordei mais ou menos quarenta quilos nos últimos dois anos - o detalhe é que eu já era obesa, sempre fui desde criança - e com isso eu atingi o limite do meu corpo, meu sobrepeso que era de 40 quilos passou a ser de 75 ou 80 quilos. engordar mais que isso é morte, permanecer com esse peso também. tenho 23 anos, seria vergonhoso morrer tão cedo por um motivo tão estúpido, né?!
No fim de 2009, fiz mais uma tentativa pesada de redução de peso. Perdi 15 quilos, que foram encontrados grama a grama durante o ano de 2010. Foram encontrados na substituição do tempo que eu usava para a atividade física para compromissos acadêmicos, pela substituição de uma alimentação controladíssima por um verdadeiro caos alimentar. Passei a ter acesso a alimentos que não faziam parte da minha vida. não havia mais espaço físico, nem tempo, para cozinhar.
também não tinha espaço adequado pra fazer uma refeição com tranquilidade, nem pra estudar com tranquilidade, nem pra descansar com tranquilidade e nem pra trepar com tranquilidade - a falta de espaço e de privacidade me deixam doente, literalmente. era o limite. o aumento do meu peso foi  reflexo de muito estresse, de muitos conflitos...
em outubro de 2010 eu retomei a dieta e perdi 10 quilos, mas não consegui manter por muito tempo. eu cursava 16 disciplinas na graduação, mais 4 projetos da universidade, mais meu tcc. chegou uma hora que o bicho pegou de uma forma que eu acabei resolvendo não pensar mais em peso e terminar meus compromissos acadêmicos e depois retomar a dieta.

devo ter chegado em 2011 com 118 quilos. o primeiro semestre de 2011 seria dedicado a retomar a dieta. fui morar com o meu namorado. a questão do espaço foi resolvida, finalmente. retomei a dieta, e depois de 1 mês de alimentação controlada e academia, eu tinha engordado 1 kg. isso mesmo, eu tinha engordado. apavorei, meu metabolismo nunca tinha feito isso comigo... depois disso percebi que não tinha mais volta. um mês de controle alimentar e atividade física sem perda nenhuma, me desesperou. e pra ajudar muitos planos que eu tinha pra 2011 se frustraram. eu me formei e não consegui um emprego decente. não passei no mestrado e fui eliminada de um processo seletivo importante por conta de um erro do parecerista. minha mãe que tinha prometido me ajudar financeiramente, até eu me estabilizar, deu pra trás, como ela sempre faz - pura inocência minha pensar que seria diferente. eu fiquei na dependência do meu namorado, eu odeio essa situação...
essas coisas todas foram demais pra mim. houve um estopim. devo ter entrado em depressão. foi um momento terrível. no meio do semestre fui aceita como estudante especial do mestrado, e a possibilidade de fazer o mestrado me animou. fiz a especialização, 2 disciplinas do mestrado e aulas de francês para a prova de proficiência.
estudei para duas provas de mestrado - são mais ou menos uns 30 livros - ou seja, nem deu tempo pra pensar em retomar dietas.
fui incluída no plano de saúde do meu namorado em setembro. me pesei em outubro e eu estava com 130 quilos. fui a ginecologista, ortopedista, e nutricionista - eles me encaminharam direto para a gastroplastia. o fim deste semestre foi divido entre os compromissos acadêmicos e a preparação para a cirurgia. hoje peso 136 quilos. em 2012 eu não passei no mestrado - preciso me dedicar mais - eu acabei não entregando os trabalhos finais das disciplinas especiais .
mas consegui terminar as disciplinas da especialização, passei no vestibular, consegui uma formação pedagógica e em breve estarei dando aulas de artes e português, o que muito me alivia. este ano começa bem mais otimista do que o ano passado. e vou escrever mais sobre isto no próximo post.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CAOS


Estou aqui a escrever artigo sobre história em quadrinho, e me preparando psicologicamente para os oito planos de aula sobre as poesias e crônicas da Hilda Hilst, que vem a seguir.  O problema é que a minha cabeça está na casa nova, em um lugar que eu não conheço, no hospital e em um corpo novo que eu não conheço, em prováveis alunos que eu espero ansiosamente. Minha cabeça está fundindo com as novas possibilidades que podem e vão mudar tudo mais uma vez. Nos próximos dias tudo vai ser muito diferente do que é agora. Não vou mais ter sábado, e vou ter pouco estômago, vou ter profissão, e por falta de uma por muito tempo, agora vou ter duas profissões, vou ter renda e vou estar em alguns lugares que eu quero muito estar desde sempre, estudando o que eu queria desde muito tempo.... Só preciso dar uma esfriada na cabeça para conseguir terminar os projetos dessa vida que ainda está aqui. Eram seis trabalhos, e eu já desisti de dois. Preciso terminar dois até sexta, e aí ficam mais dois para a semana que vem. Estou vergonhosamente atrasada pra quem precisava apenas se cuidar, e escrever. vai ficar faltando a monografia, que será prorrogada até sabe-se lá quando. e ela tem que sair em breve, senão 2011 terá sido completamente em vão... é uma pena que as coisas aconteçam nesta velocidade vertiginosa. é uma pena eu ser muito devagar pra esse mundo. estou tentando superar. boa sorte pra mim na conclusão destes planos e no início de novos planos....

sábado, 14 de janeiro de 2012

sonho

respira. respira. respira.


e de repente uma estranha liberdade, uma leveza não humana. é como flutuar. volta e respira. vejo o quarto com a mesma bagunça de sempre. livros e papelada espalhados na mesa e no chão roupa suja no canto e a cama sem lençol. tudo é claro e fresco. claro como sempre, fresco como nunca. uma alegria estranha toma conta do ambiente. vamos ter que entregar o apartamento, em breve.  eu consigo vê-lo por outra perspectiva a perspectiva de quem flutua. volta e respira. não é necessário se respirar quando flutua. volta. respira fundo. não tem ninguém em por aqui hoje. ela sempre está em casa agora.

os cabelos cresceram bastante desde a última vez que te vi. sim, mas andam caindo, terei que cortar em breve... aceita? não, não tô podendo... porque? recomendação médica. você odiava médicos. continuo odiando. mas aceita recomendações de um. sim, de mais de um... mas isso não quer dizer que eu goste deles. você confia neles? não. você anda desenhando? não. e você? mandei um esboços para uma amiga. namorada? sim. porque você me colocou aqui? o texto é seu. eu pensei que tivesse me matado. eu matei. e o que estou fazendo aqui? é que eu sempre te vejo nos filmes... em quase todos que assisto. acho que estou com saudades do seu drama. saudades? não, é mentira. te quero bem longe de mim. estou bem longe. eu sei. você anda sonhando muito? todas as noites... esta sonhando agora? sim.

ela tinha medo. mas também não tinha. e essa é uma coisa estranha de se explicar... encarava algumas coisas sem pensar muito. encarava porque tinha que encarar. quando não se sabe muito o que se espera, fica mais fácil. tinha pouca expectativa e não sabia explicar bem se isso era personalidade, preguiça ou depressão. mas lá no fundo, um tanto escondido ela tinha medo.

respira. doutor, eu vou ficar bem? vai, mas não pare de respirar e se flutuar não saia da sala. fique por perto, entendeu? não vá pra longe fique aqui. estou sonhando? está. eu vou voltar? só se você quiser. eu quero voltar. então volta.

apartamento. aqui é tão claro. temos que entregar. eu sei. e agora? vida nova de novo. fica comigo? fico. então acorda. acordei.