terça-feira, 1 de maio de 2012

ousadia

já era tarde. já tinha passado do meio dia. e pouco podia se esperar daquele corpo prostrado embaixo das cobertas. tédio, é feriado, porém a vida está toda em desordem. falta tempo e de repente, um feriado. a expectativa, sempre é colocar o caos em ordem. enfim, tempo para todas as atividades atrasadas. o que acontece de fato é um corpo que vai mais devagar do que devia ir. o feriado serve para tudo, menos para dar conta da vida atrasada. para ajudar: um dia frio. um feriado prolongado e frio. a luta do corpo preguiçoso com uma vida que grita "vai lóooogo nêga". então ela resolveu ir. levantou-se roupa suja na máquina, um banho faria bem, ensaia uma limpada no banheiro e logo a bateria acaba de novo. o que fazer? fugir. cinema. vou ao cinema pego a sessão das quatro e volto antes das sete, em meia hora ajeito as coisas da casa e fico até a meia noite dando conta das coisas da escola e da universidade. perfeito. coloca-se bonita e mete-se dentro do primeiro ônibus que surge. a expectativa é: duas horas agradáveis para dar conta do resto do dia. o que não foi previsto é que os quinhentos mil habitantes daquela cidade  tiveram a mesma ideia. o cinema foi abortado depois da constatação de que um coletivo em horário de pico seria um ambiente menos inóspito. era o fim do cinema, mas não da necessidade de uns momentos de prazer. o refúgio foi a livraria. olha aqui, olha ali, olha, olha, olha, desvio de todos os conhecidos indesejáveis, que irremediavelmente estavam no recinto. foi assim que uma coletânea de contos e crônicas do Moacir Scliar caiu na mão dela. seria essa a ousadia? livro comprado, pura ousadia... vai ser usado na elaboração das provas do nono ano. agora sim, voltar para a casa é possível... desviando sorrateiramente a multidão, se enfia como veio no mesmo ônibus e volta lendo alegre e feliz a ousadia. pra arrebatar ao chegar em casa, escreve. as coisas continuarão por fazer hoje, por pura ousadia...

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