sexta-feira, 15 de junho de 2012

eu me sinto como se tivesse nascido em outro tempo. é como se a minha sensibilidade, percepção e memória fossem de um instante mais cedo do que era para ser naturalmente. tenho referências um pouco anteriores as das pessoas... fico pensando que atraso para assimilar o mundo. quando uma experiência é assililada com atraso.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ousadia

já era tarde. já tinha passado do meio dia. e pouco podia se esperar daquele corpo prostrado embaixo das cobertas. tédio, é feriado, porém a vida está toda em desordem. falta tempo e de repente, um feriado. a expectativa, sempre é colocar o caos em ordem. enfim, tempo para todas as atividades atrasadas. o que acontece de fato é um corpo que vai mais devagar do que devia ir. o feriado serve para tudo, menos para dar conta da vida atrasada. para ajudar: um dia frio. um feriado prolongado e frio. a luta do corpo preguiçoso com uma vida que grita "vai lóooogo nêga". então ela resolveu ir. levantou-se roupa suja na máquina, um banho faria bem, ensaia uma limpada no banheiro e logo a bateria acaba de novo. o que fazer? fugir. cinema. vou ao cinema pego a sessão das quatro e volto antes das sete, em meia hora ajeito as coisas da casa e fico até a meia noite dando conta das coisas da escola e da universidade. perfeito. coloca-se bonita e mete-se dentro do primeiro ônibus que surge. a expectativa é: duas horas agradáveis para dar conta do resto do dia. o que não foi previsto é que os quinhentos mil habitantes daquela cidade  tiveram a mesma ideia. o cinema foi abortado depois da constatação de que um coletivo em horário de pico seria um ambiente menos inóspito. era o fim do cinema, mas não da necessidade de uns momentos de prazer. o refúgio foi a livraria. olha aqui, olha ali, olha, olha, olha, desvio de todos os conhecidos indesejáveis, que irremediavelmente estavam no recinto. foi assim que uma coletânea de contos e crônicas do Moacir Scliar caiu na mão dela. seria essa a ousadia? livro comprado, pura ousadia... vai ser usado na elaboração das provas do nono ano. agora sim, voltar para a casa é possível... desviando sorrateiramente a multidão, se enfia como veio no mesmo ônibus e volta lendo alegre e feliz a ousadia. pra arrebatar ao chegar em casa, escreve. as coisas continuarão por fazer hoje, por pura ousadia...

sábado, 28 de abril de 2012

12 minutos


olhar rápido para o relógio de pulso. desespero. Curva, semáforos placas de pare. 2 minutos. Aperto apressadamente o sinal e fico no posto. O ônibus pára, desço. passos rápidos. uma corrida de leve e o tubo com os desenhos se abre. papéis espalhados pela calçada suja. 7 minutos. Apanho o material espalhado e ensaio uma corrida. primeira esquina, atravesso sem olhar e quase sou atropelada. corro um quarteirão. 9 minutos. segunda esquina. semáforo aberto e fluxo intenso. espero. canso de esperar, desespero e me lanço entre os carros. corro desesperadamente mais um quarteirão. 10 minutos. ainda resta meia quadra. respiro. o corpo treme e sua. a mochila pesa. o tubo ameaça abrir novamente. corro e subo desesperadamente um lance de escadas. pergunto -a prova? uma voz responde - primeiro andar. mais um lance de escadas - a prova? - no fim do corredor. -onde? onde? onde? 11 minutos. a prova. três batidas de leve na porta e nenhuma resposta. três batidas intensas na porta e nenhuma resposta. coração acelerado. pernas bambas, corpo trêmulo, respiração descompassada. desespero. mão na maçaneta, abro levemente e espio por uma fresta. alguém vem ao meu encontro, e pede paciência. 12 minutos. posso entrar? não. por favor, houve um engano...  infelizmente se passaram 12 minutos. a porta se fecha. a possibilidade não existe mais. se passaram 12 minutos. 12 minutos de tortura, de pura impossibilidade, 12 minutos me separando de uma escolha. o corpo sua e treme o coração acelerado e o pulmão respira descompassado. pernas bambas. tontura e desnorteamento. desço as escadas, sento em um canto respiro e penso. desnorteamento. tento chorar, mas não consigo. subo as escadas entro na biblioteca e desenho compulsivamente durante três horas.

domingo, 8 de abril de 2012

sobre a universidade

de repente uma alegria com as novas escolhas acadêmicas...talvez pela primeira vez, a universidade deixou de ser um espaço de [o]pressão e passou a ser um espaço de liberdade e de criação. se não for assim, não faz sentido, não tem porque... aliviada em ter conseguido largar uma série de mortos que eu vinha carregando desde de que eu cheguei. aliviada em perceber que as possibilidades são mais amplas do que eu pensava quando eu me formei em 2010. as coisas vão demorar um pouco mais do que eu tinha planejado pra acontecer, e serão mais trabalhosas agora que estudar não pode mais ser única atividade da vida... tudo continua corrido como sempre, mas agora eu consigo respirar um pouco mais, acho que isso é bom.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Impressões


a casa revirada, tênis com meia suja dentro, chapas de raio x coladas na parede com fita isolante, livros aberto sobre a mesa, livros empoeirados nas prateleiras, papéis revirados espalhados por todos os cantos. roupas sujas. cheiro de sabão em pó com água sanitária que vem do banheiro recém lavado. a tarde é de sol, e dá pra ouvir os moleques jogando bola lá fora, dá pra ouvir entre o barulho dos carros alguns passarinhos que insistem em existir. o ventilador ligado, banho recém tomado. existe algo de absurdo, algo que não se explica nesta vida. os textos pras aulas da noite, a casa pra terminar de organizar, aquele leve desespero de quando falta dinheiro, que sempre falta. a vida é bonita e feia ao mesmo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

o porque de uma gastroplastia #2

Faltava mais ou menos uma semana para a cirurgia. eu tinha uma consulta com a nutricionista, e além disso precisava ir até a universidade entregar livros na biblioteca e trabalhos no departamento. 
Saí de casa como sempre faço e fui esperar o ônibus. uma mulher loura, cabelos compridos encaracolados, muito bem vestida, linda estava atrasada e correu um pouco no alto do seu salto, para não perder o ônibus - o motorista, muito bem educado esperou a moça chegar até o ônibus - uma atitude muito respeitosa do trabalhador.
Porém, dois pontos após o meu e o da bela moça, havia uma senhora, um pouco mais velha, pobre, bem menos atraente, e que corria muito mais que a moça loira por não estar de salto alto. ela estava bem mais perto do ônibus e o motorista simplesmente tocou o ônibus e não esperou 10 segundos para que a mulher chegasse até a porta - um cara cuzão, que acredita que apenas mulheres "gostosas" merecem respeito. dois pesos e duas medidas.
entrei em conflito com o acontecido. fiquei tentando resgatar situações parecidas em que eu era o alvo. entrevistas de emprego, festas, família, lojas, hospitais, ônibus, roda de amigos, escola, universidade. quantas e quantas vezes as pessoas se sentiram no direito de não me respeitar ou de me humilhar pelo simples fato de eu estar acima do peso. 
nunca houve nada de errado comigo, sou uma pessoa bonita, esclarecida, inteligente, competente e etc - e praticamente desde criança fui taxada e tratada como uma pessoa feia, preguiçosa, incapaz, e etc. muita gente já tomou muito olé por me enquadrar num esteriótipo de mulher gorda que simplesmente não tem nada a ver comigo.
visão do inferno. será?
Faz pouco tempo um amigo da época do colegial disse numa conversa que meus seios seriam a visão do inferno - ele nunca viu meus seios, e nunca vai ver. não há nada de errado com eles e nem com o resto do meu corpo. muito pelo contrário, eu tenho um corpo muito bonito. um corpo gordo - fato - porém todo firme e proporcional. desculpem, sou gorda sim e sou muito bonita. gosto de fotografia, e já fotografei algumas mulheres nuas. já me fotografei nua. e são lindos os meus seios, minha bunda, minhas pernas, as curvas do meu corpo. e não sou só eu que acho lindo.
tá ninguém precisa me achar gostosa. ninguém precisa querer me comer. eu detesto esse tipo de relação e definitivamente não é isso o que eu busco com a gastroplastia. só não curto pesar 136 quilos, mas não era um problema pra mim pesar 100 ou 90 quilos...
fiz a cirurgia porque gosto de ser saudável e gosto de me sentir bem. gosto de nadar 2 km sem me cansar. gosto de andar de bicicleta sem dores nos joelhos e coluna. fiz a cirurgia porque é desesperador passar a vida tendo que provar para as pessoas que além de gorda - que sou - sou também outras coisas, que muita gente não consegue ver. fiz a cirurgia porque é muito triste passar a vida sendo desrespeitada por não ser magra. muita gente não me leva a sério porque sou gorda. fiz porque sinto muitas vezes que tenho menos liberdade de dizer o que penso, de fazer o que quero, de estar da forma que eu bem entendo por conta do meu peso - isso não é justo pra ninguém. e não é essa a vida que eu escolhi pra mim. 
o mundo está errado e infelizmente faço parte de um mundo torto. sei que muita gente que ri da minha cara vai me respeitar e me admirar quando eu perder peso. são pessoas idiotas e que eu quero bem longe de mim. quero ser respeitada pelo que sou e sempre fui e não pelo que pareço ou pelo julgamento errado de um bando de imbecis. 
este foi um desabafo que eu termino por aqui.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

o porque de uma gastroplastia #1



Hoje é sexta feira. Estou tensa. Entre segunda feira da semana passada e hoje consegui a liberação para a gastroplastia, passei no vestibular, achei uma casa nova pra locar, perdi a casa, escrevi três artigos, me matriculei na universidade, achei outra casa, fui chamada para  assumir aulas de artes, e não assumi por conta da gatroplastia.
Amanhã começa a minha formação pedagógica e estou em dieta líquida desde agora. opero o meu estômago na quarta-feira.  não há nervos que aguentem tanta coisa acontecendo de uma vez só. estou num momento de pressão. coisas que definem a vida daqui pra diante estão acontecendo rápido e simultaneamente e não há muito tempo para respirar e contar até dez.
Dentre todo este turbilhão, a gastroplastia é o que mais anda me tirando o sono. em alguns momentos, por euforia, outros por apreensão e outros ainda por puro pavor. medo da cirurgia?
sim, é claro.
mais medo ainda de não fazê-la. ou de fazê-la e haver complicações posteriores. ou ainda fazê-la e não perder peso.  

eu fui uma pessoa resistente à gastroplastia. não teria feito se tivesse permanecido em determinado peso -mesmo com indicação- mas alguns acontecimentos dos últimos dois anos me trouxeram até aqui - com a necessidade incontestável de passar pela redução de estômago.

A primeira coisa foi o aumento de peso. engordei mais ou menos quarenta quilos nos últimos dois anos - o detalhe é que eu já era obesa, sempre fui desde criança - e com isso eu atingi o limite do meu corpo, meu sobrepeso que era de 40 quilos passou a ser de 75 ou 80 quilos. engordar mais que isso é morte, permanecer com esse peso também. tenho 23 anos, seria vergonhoso morrer tão cedo por um motivo tão estúpido, né?!
No fim de 2009, fiz mais uma tentativa pesada de redução de peso. Perdi 15 quilos, que foram encontrados grama a grama durante o ano de 2010. Foram encontrados na substituição do tempo que eu usava para a atividade física para compromissos acadêmicos, pela substituição de uma alimentação controladíssima por um verdadeiro caos alimentar. Passei a ter acesso a alimentos que não faziam parte da minha vida. não havia mais espaço físico, nem tempo, para cozinhar.
também não tinha espaço adequado pra fazer uma refeição com tranquilidade, nem pra estudar com tranquilidade, nem pra descansar com tranquilidade e nem pra trepar com tranquilidade - a falta de espaço e de privacidade me deixam doente, literalmente. era o limite. o aumento do meu peso foi  reflexo de muito estresse, de muitos conflitos...
em outubro de 2010 eu retomei a dieta e perdi 10 quilos, mas não consegui manter por muito tempo. eu cursava 16 disciplinas na graduação, mais 4 projetos da universidade, mais meu tcc. chegou uma hora que o bicho pegou de uma forma que eu acabei resolvendo não pensar mais em peso e terminar meus compromissos acadêmicos e depois retomar a dieta.

devo ter chegado em 2011 com 118 quilos. o primeiro semestre de 2011 seria dedicado a retomar a dieta. fui morar com o meu namorado. a questão do espaço foi resolvida, finalmente. retomei a dieta, e depois de 1 mês de alimentação controlada e academia, eu tinha engordado 1 kg. isso mesmo, eu tinha engordado. apavorei, meu metabolismo nunca tinha feito isso comigo... depois disso percebi que não tinha mais volta. um mês de controle alimentar e atividade física sem perda nenhuma, me desesperou. e pra ajudar muitos planos que eu tinha pra 2011 se frustraram. eu me formei e não consegui um emprego decente. não passei no mestrado e fui eliminada de um processo seletivo importante por conta de um erro do parecerista. minha mãe que tinha prometido me ajudar financeiramente, até eu me estabilizar, deu pra trás, como ela sempre faz - pura inocência minha pensar que seria diferente. eu fiquei na dependência do meu namorado, eu odeio essa situação...
essas coisas todas foram demais pra mim. houve um estopim. devo ter entrado em depressão. foi um momento terrível. no meio do semestre fui aceita como estudante especial do mestrado, e a possibilidade de fazer o mestrado me animou. fiz a especialização, 2 disciplinas do mestrado e aulas de francês para a prova de proficiência.
estudei para duas provas de mestrado - são mais ou menos uns 30 livros - ou seja, nem deu tempo pra pensar em retomar dietas.
fui incluída no plano de saúde do meu namorado em setembro. me pesei em outubro e eu estava com 130 quilos. fui a ginecologista, ortopedista, e nutricionista - eles me encaminharam direto para a gastroplastia. o fim deste semestre foi divido entre os compromissos acadêmicos e a preparação para a cirurgia. hoje peso 136 quilos. em 2012 eu não passei no mestrado - preciso me dedicar mais - eu acabei não entregando os trabalhos finais das disciplinas especiais .
mas consegui terminar as disciplinas da especialização, passei no vestibular, consegui uma formação pedagógica e em breve estarei dando aulas de artes e português, o que muito me alivia. este ano começa bem mais otimista do que o ano passado. e vou escrever mais sobre isto no próximo post.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CAOS


Estou aqui a escrever artigo sobre história em quadrinho, e me preparando psicologicamente para os oito planos de aula sobre as poesias e crônicas da Hilda Hilst, que vem a seguir.  O problema é que a minha cabeça está na casa nova, em um lugar que eu não conheço, no hospital e em um corpo novo que eu não conheço, em prováveis alunos que eu espero ansiosamente. Minha cabeça está fundindo com as novas possibilidades que podem e vão mudar tudo mais uma vez. Nos próximos dias tudo vai ser muito diferente do que é agora. Não vou mais ter sábado, e vou ter pouco estômago, vou ter profissão, e por falta de uma por muito tempo, agora vou ter duas profissões, vou ter renda e vou estar em alguns lugares que eu quero muito estar desde sempre, estudando o que eu queria desde muito tempo.... Só preciso dar uma esfriada na cabeça para conseguir terminar os projetos dessa vida que ainda está aqui. Eram seis trabalhos, e eu já desisti de dois. Preciso terminar dois até sexta, e aí ficam mais dois para a semana que vem. Estou vergonhosamente atrasada pra quem precisava apenas se cuidar, e escrever. vai ficar faltando a monografia, que será prorrogada até sabe-se lá quando. e ela tem que sair em breve, senão 2011 terá sido completamente em vão... é uma pena que as coisas aconteçam nesta velocidade vertiginosa. é uma pena eu ser muito devagar pra esse mundo. estou tentando superar. boa sorte pra mim na conclusão destes planos e no início de novos planos....

sábado, 14 de janeiro de 2012

sonho

respira. respira. respira.


e de repente uma estranha liberdade, uma leveza não humana. é como flutuar. volta e respira. vejo o quarto com a mesma bagunça de sempre. livros e papelada espalhados na mesa e no chão roupa suja no canto e a cama sem lençol. tudo é claro e fresco. claro como sempre, fresco como nunca. uma alegria estranha toma conta do ambiente. vamos ter que entregar o apartamento, em breve.  eu consigo vê-lo por outra perspectiva a perspectiva de quem flutua. volta e respira. não é necessário se respirar quando flutua. volta. respira fundo. não tem ninguém em por aqui hoje. ela sempre está em casa agora.

os cabelos cresceram bastante desde a última vez que te vi. sim, mas andam caindo, terei que cortar em breve... aceita? não, não tô podendo... porque? recomendação médica. você odiava médicos. continuo odiando. mas aceita recomendações de um. sim, de mais de um... mas isso não quer dizer que eu goste deles. você confia neles? não. você anda desenhando? não. e você? mandei um esboços para uma amiga. namorada? sim. porque você me colocou aqui? o texto é seu. eu pensei que tivesse me matado. eu matei. e o que estou fazendo aqui? é que eu sempre te vejo nos filmes... em quase todos que assisto. acho que estou com saudades do seu drama. saudades? não, é mentira. te quero bem longe de mim. estou bem longe. eu sei. você anda sonhando muito? todas as noites... esta sonhando agora? sim.

ela tinha medo. mas também não tinha. e essa é uma coisa estranha de se explicar... encarava algumas coisas sem pensar muito. encarava porque tinha que encarar. quando não se sabe muito o que se espera, fica mais fácil. tinha pouca expectativa e não sabia explicar bem se isso era personalidade, preguiça ou depressão. mas lá no fundo, um tanto escondido ela tinha medo.

respira. doutor, eu vou ficar bem? vai, mas não pare de respirar e se flutuar não saia da sala. fique por perto, entendeu? não vá pra longe fique aqui. estou sonhando? está. eu vou voltar? só se você quiser. eu quero voltar. então volta.

apartamento. aqui é tão claro. temos que entregar. eu sei. e agora? vida nova de novo. fica comigo? fico. então acorda. acordei.